quinta-feira, 30 de junho de 2011

Os rivais de amanhã por eles mesmos

Amanhã tem o segundo capítulo da trajetória brasileira na Letônia. Nossa seleção enfrentará o jovem e perigoso time da Polônia, que venceu a Tunísia com facilidade na abertura da competição no jogo que fez preliminar do duelo Brasil e Rússia. Consegui, por meio de amigos em comum, falar com dois jogadores do jovem time polonês: Piotr Niedzwiedzki (abaixo, com o troféu), responsável por 9 pontos, 6 rebotes e 3 assistências na vitória de hoje e o bastante elogiado escolta Mateusz Ponitka (camisa 10), que anotou 17 pontos hoje.

Num longo papo, pude aprender um pouco mais sobre esse time que optou por levar jogadores nascidos em 1993, um ano acima da regra permitida pelo torneio. Ambos viram a partida entre Brasil e Rússia no ginásio. Para Piotr, "Foi um jogo digno de Campeonato Mundial!". Ponitka completou: "Fantástico jogo! Que sorte tiveram os russos!".

Com o espírito mais aguerrido, Niedzwiedzki disse que o time polonês é o mais homogêneo de toda a competição e que ele sabe que o jogo interno será duríssimo, mas que ele estará lá para brigar muito forte. Pra ele, a principal característica deste jovem time polonês é não desistir até a última bola.

Já o cestinha Ponitka falou de questões mais ligadas ao jogo propriamente dito de amanhã e deu pistas de como a Polônia virá preparada. Falou que a melhor maneira de vencer o Brasil é parar Raulzinho (Neto, para eles), bloquear nos rebotes defensivos e atacar pacientemente. O escolta também ressaltou o caráter homogêneo do time polonês.

Raul, aliás, foi assunto para ambos. Piotr falou que Neto chamou bastante atenção por ter uma bola de fora muito perigosa, além de ser um cestinha nato. Perguntei, por isso, a Ponitka se poderíamos esperar um duelo dele contra o armador mineiro e ele despistou: "A não, eu sou um ala-armador, não sou armador, não vou ser eu quem vai marcá-lo".

No entanto, chamou bastante atenção que ambos estão bem mais focados no Europeu para nascidos em 93 que acontecerá esse ano, na Polônia, do que no próprio Mundial em si. Foi essa a estratégia escolhida pela federação local para causar boa impressão jogando em casa. Piotr explicou um pouco melhor: "Ano passado, jogamos uma competição muito importante de nossa categoria e ficamos em segundo lugar, então estão investindo na gente, inclusive, gostaria de convidá-los a torcer pela Polônia no Europeu que acontecerá". Ponitka, também bastante simpático, foi no mesmo sentido: "Sim, somos os mais novos aqui e estamos nos preparando para o Europeu que jogaremos em casa".


Estreia pra doer

Todo fã de basquete é vacinado. Todos temos lá nossas dores acumuladas pela experiência de basqueteiro. Acabo de somar mais uma nesta lista: a derrota para a Rússia na estréia do Mundial sub19 da Letônia (os números do jogo aqui).

Dor que começou angustiada por mais um papelão dos canais esportivos brasileiros, que insistem em anunciar a transmissão de basquete e não cumprir. Dessa vez os motivos foram mesmo fora de seu alcance, uma vez que sequer houve transmissão direto da Letônia (nem mesmo no esquema pago no site da FIBA TV).

A presepada nos obrigou a inovar e criamos um simpático chat no Giro onde acompanhamos toda a partida. Quem quiser acompanhar o desespero do ponto a ponto, entender as minúcias e os sobe-desce do placar, pode clicar aqui e ver nossa reação ou averiguar no play-by-play do Live Score.

A dupla condição, de analista e torcedor, nos joga contra a parede numa situação como essa. Somos, antes que fãs do basquete, torcedores da seleção brasileira e criar qualquer ânimo para escrever essa nota depois da punhalada que acabamos de sofrer é um desafio. Cabe, para tanto, demonstrar honestidade. Ao assistir o jogo apenas por números, nenhum argumento nosso pode ser maior do que os números e, quem nos acompanha sabe, para nós, eles são apenas parte, uma parte muitas vezes superdimensionada pelos fãs de basquete.

Por isso, não analisarei muita coisa, embora entenda que para compreender o jogo precisemos saber que Raul jogou pouco tempo porque estava pendurado, e isso acabou dando espaço para uma partidaça de Davi. Que Lucas e Cristiano, duas peças importantes pro jogo interno, também tiveram problemas com o número de faltas e que fizemos um jogo duríssimo contra os tradicionais russos.

Isso dito, o que importa é confessar a tamanho da punhalada que veio das mãos de Sergey Karasev, russo nascido em 1993 e já um dos destaques desse Mundial. Filho de Vasily Karasev, membro constante nas seleções adultas do país, Sergey encheu nossas redinhas o jogo todo e guardou o pior para o final. O Brasil perdia por 2 e, a 2 segundos do fim, buscamos o empate por meio de lances-livres do Bebê. Quando nós, o twitter da CBB e todo o planeta esperava a prorrogação, uma bola miraculosa, do meio da quadra, deu a vitória aos russos, 81-78. Maldito Karasev!

Se nós, torcedores, ficamos abalados, imaginem os garotos. A missão é juntar os cacos para o importante duelo contra a Polônia. Vencer é fundamental. Estamos no Giro, mais uma vez, torcendo angustiadamente. Você é nosso convidado.

Giro na Torcida: Brasil e Rússia, Mundial Sub19


Get your own Chat Box! Go Large!

Começa hoje. Pra ser mais preciso, em menos de uma hora. E a estréia não poderia ser mais difícil. Vamos encarar os tradicionais russos. Este post tem o intuito de abrir os comentários para compartilharmos links para transmissão, informações sobre o jogo, cornetadas tradicionais e nossa efusiva torcida.

Vamos ver se o sistema funciona. Se pegar, podemos manter para outros jogos e outros campeonatos. Caso contrário, será uma experiência única, no sentido ruim do termo.

Sem mais, está aberto o espaço.

#PlayersPositionHeight
4M. KarpachevG197/6'6"
5A. VarnakovG185/6'1"
6A. VikhrovPG193/6'4"
7S. KarasevSF200/6'7"
8G. GoldyrevF200/6'7"
9D. KulaginSG195/6'5"
10A. TikhoninF205/6'9"
11V. TrushkinSF200/6'7"
12T. BekkievF204/6'8"
13A. GudumakC204/6'8"
14V. ZaryazhkoSG194/6'4"
15A. LoginovF204/6'8"
Average height: 198cm/6'6"



#PlayersPositionHeight
4D. CunhaSF200/6'7"
5D. RossettoPG180/5'11"
6C. FelicioC206/6'9"
7B. IrigoyenSF202/6'8"
8R. NetoPG186/6'1"
9F. VezaroSG190/6'3"
10F. TaddeiSG192/6'4"
11G. AguirrePF208/6'10"
12L. NogueiraC213/7'0"
13A. CasimiroC208/6'10"
14L. MeindlSF200/6'7"
15E. RodriguesPF203/6'8"

Average height: 199cm/6'6"



quarta-feira, 29 de junho de 2011

Entrevista exclusiva com José Neto, técnico da seleção sub19


Às vésperas da estréia no Mundial Sub19, falamos com José Neto, técnico do time mais carismático de basquete de base brasileiro desde muito tempo. Com promessas de craques mundiais como Raulzinho e Bebê, além de vários jogadores de muito potencial, como os Felipes Taddei e Vezaro, Gabriel Aguirre, Arthur e Cristiano, entre outros, o Brasil vai à Letônia disputar com a elite do basquete de base mundial.

Contatei Neto para um rápido bate-papo, mais para aprender alguma coisa sobre a Rússia e sacar as últimas novidades da seleção. No entanto, a conversa foi tão interessante que acho que é possível organizar como uma entrevista, mantendo aquela premissa que quem nos acompanha sabe, de que não podemos saber mais do que nossos leitores e que informação não se guarda, deve circular.

Fala Neto! Queria saber um pouco mais sobre esse time da Rússia. O que esperar deles?

Fala Guilherme, tudo bem? A Rússia é um time muito forte que foi vice-campeão europeu, perdendo apenas um jogo durante todo o torneio (que foi a final para a Lituânia, lembrando que o europeu aconteceu na Lituânia). Eles têm um time muito forte fisicamente, jogadores grandes exteriores que defendem muito bem com variações defensivas. Tem um jogador da posição 4 e outro da posição 3 que tem volume mais alto do time. Eles têm também um bom armador, que prefere o jogo de infiltração.

Sobre esses jogos na preparação, aquele jogo da Austrália foi atípico? Porque vencemos o Canadá que venceram eles. Ficamos um pouco preocupados depois daquilo.

Não dá pra fazer muitas comparações. A Austrália é uma excelente equipe. Eles foram muito mal contra o Canadá. O Canadá marcou zona e a Austrália arremessou 2-19 pra 3 pontos. Contra a gente eles tiveram um aproveitamento muito alto, 10-14 dos 3 pontos.


Alguns lituanos que conversamos elogiaram bastante Raulzinho, e comentaram que praticamente todas as ações brasileiras passam por ele. Vi também, mas aí são apenas números que não dizem muito, que quando ele sai, é difícil manter o mesmo nível. Pensa em mantê-lo em quadra pelos 40 minutos no jogo contra a Rússia?

Considero que para jogar basquete internacional em um nível alto, é necessário ter resistência e intensidade, ou seja, jogar a 100% o máximo de tempo possível. Por mais que esteja preparado, dificilmente é possível um jogador manter uma intensidade jogando os 40 minutos.

Na Copa América, Roese utilizava Bebê vindo do banco, numa estratégia de jogo que deu bastante certo em SA. Nos primeiros amistosos você chegou a repetir isso, mas nos dois últimos ele já veio no time desde o início. Como tem pensado em utilizá-lo?

Ele é um jogador que tem as condições para começar jogando. Temos outros jogadores da posição que estão bem também, como Arthur e Cristiano. Cada adversário tem uma exigência tática que podemos ter opções.

Argentina convoca seu "Dream Team"



O técnico Julio Lamas apresentou nesta quarta-feira a sua pré-convocação para o Torneio Pré-Olímpico de Mar Del Plata. Estão presentes dois jogadores ligados ao basquete brasileiro: Juan Pablo Figueroa, que acertou a sua renovação com o Pinheiros, e Federico Kammerichs, que já acertou verbalmente a sua transferência para o Flamengo.

Não há grandes surpresas, já que as voltas de Pepe Sanchez e de Oberto já tinham sido fartamente notícias pela imprensa. E a lista demonstra que a CABB está muito otimista em relação à participação dos jogadores da NBA, mesmo considerando a possibilidade do locaute. Afinal, há 4 atletas que atuam na liga estadunidense entre os 15 convocados, incluindo Luis Scola, cuja participação no Pré-Olímpico está ameaçada por uma grave lesão no joelho.

Baseado em declarações do próprio Julio Lamas, há um certo consenso na Argentina de que, exceto por problemas de lesão ou pedidos de dispensa, 9 jogadores já estariam garantidos em Mar Del Plata: Prigioni, Pepe Sanchez, Manu, Delfino, Jasen, Nocioni, Leo Gutierrez, Scola e Oberto. Assim, restariam apenas 3 vagas a serem disputadas por 6 jogadores, que seriam Figueroa, Quinteros, Mainoldi, Kammerichs, Juan Gutiérrez e Leiva.

Numa análise superficial e considerando a situação de momento, dá para dizer que Figueroa e Kammerichs têm boas perspectivas. Apesar de a posição de armador estar extremamente bem servida de veteranos com o campeão olímpico Pepe Sanchez e com Prigioni, Julio Lamas pode se interessar em levar um especialista em defesa, já que os principais adversários da Argentina possuem jogadores na posição capazes de causar estragos: Huertas (Brasil), Arroyo e Barea (Porto Rico). A briga de Kammerichs dependerá muito das condições físicas de Scola e Oberto, o que pode levar Lamas a convocar um número maior de jogadores para o garrafão.



Confira a lista completa abaixo:

Pablo Prigioni
Puesto: Base
Altura: 1,86
Fecha de nacimiento: 17/05/77
Lugar: Río Tercero, Córdoba
Ultimo club: Real Madrid (ACB, España)

Juan Ignacio Sánchez
Puesto: Base
Altura: 1,92
Fecha de nacimiento: 08/05/77
Lugar: Bahía Blanca, Buenos Aires
Ultimo club: Weber Bahía Estudiantes (Bahía Blanca)

Juan Pablo Figueroa
Puesto: Base
Altura: 1,83
Fecha de nacimiento: 13/03/86
Lugar: Córdoba
Ultimo club: Pinheiros (San Pablo, Brasil)

Emanuel David Ginóbili
Puesto: Escolta
Altura: 1,98
Fecha de nacimiento: 28/07/77
Lugar: Bahía Blanca, Buenos Aires
Ultimo club: San Antonio Spurs (NBA, Estados Unidos)

Carlos Francisco Delfino
Puesto: Escolta
Altura: 1,96
Fecha de nacimiento: 29/08/82
Lugar: Santa Fe
Ultimo club: Milwaukee Bucks (NBA, Estados Unidos)

Hernán Emilio Jasen
Puesto: Alero
Altura: 1,99
Fecha de nacimiento: 04/02/78
Lugar: Bahía Blanca, Buenos Aires
Ultimo club: Estudiantes (ACB, España)

Andrés Marcelo Nocioni
Puesto: Alero
Altura: 2,00
Fecha de nacimiento: 30/11/79
Lugar: Gálvez, Santa Fe
Ultimo club: Philadelphia 76ers (NBA, Estados Unidos)

Alfredo Paolo Quinteros
Puesto: Alero
Altura: 1,88
Fecha de nacimiento: 15/01/79
Lugar: Colón, Entre Ríos
Ultimo club: Zaragoza (ACB, España)

Leonardo Martín Gutiérrez
Puesto: Ala-pivote
Altura: 2,00
Fecha de nacimiento: 16/05/78
Lugar: Marcos Juárez, Córdoba
Ultimo club: Peñarol (Mar del Plata)

Luis Alberto Scola
Puesto: Ala-pivote
Altura: 2,07
Fecha de nacimiento: 30/04/80
Lugar: Ciudad de Buenos Aires
Ultimo club: Houston Rockets (NBA, Estados Unidos)

Leonardo Andrés Mainoldi
Puesto: Ala-pivote
Altura: 2,02
Fecha de nacimiento: 04/03/85
Lugar: Cañada de Gómez (Santa Fe)
Club: Fuenlabrada (ACB, España)

Guillermo Federico Kammerichs
Puesto: Ala-pivote
Altura: 2,04
Fecha de nacimiento: 21/06/80
Lugar: Goya, Corrientes
Ultimo club: Regatas (Corrientes)

Juan Pedro Gutiérrez
Puesto: Pivote
Altura: 2,05
Fecha de nacimiento: 10/10/83
Lugar: Nueve de Julio, Buenos Aires
Ultimo club: Obras Sanitarias (Capital Federal)

Fabricio Raúl Jesús Oberto
Puesto: Pivote
Altura: 2,07
Fecha de nacimiento: 21/03/75
Lugar: Las Varillas, Córdoba
Ultimo club: Portland Trail Blazers (NBA, Estados Unidos)

Martín Darío Leiva
Puesto: Pivote
Altura: 2,10
Fecha de nacimiento: 23/04/80
Lugar: Ciudad de Buenos Aires
Ultimo club: Peñarol (Mar del Plata)

O time a ser batido

Nesta quinta-feira, quando a bola subir na Letônia para a décima edição do Campeonato Mundial Sub19, todos os olhos estarão voltados para a Lituânia.

Afinal, estamos falando de uma geração especial, não apenas talentosa, mas também vitoriosa e, por que não assim dizer, praticamente imbatível. Formada exclusivamente por jogadores nascidos no ano de 1992, a chamada geração de ouro da Lituânia venceu todas as competições que disputou oficialmente.

Já sob o comando de Jonas Valanciunas (foto) e Vytenis Cizauskas, há 3 anos atrás esses garotos atropelaram todos os principais rivais do continente no Campeonato Europeu Sub16.

Não satisfeita, a geração 92 abocanhou o Campeonato Europeu Sub18 de 2010 com uma surra histórica contra os russos na final: 90 x 61, depois de passar sufoco na semifinal contra a Sérvia. 

Vale dizer, Valanciunas, do Lietuvos Rytas (em breve no Toronto Raptors), foi eleito o MVP em ambas as competições. Ele, Cizauskas e Aniulis ainda foram emprestados à geração 91 que ficou com a quarta colocação no Europeu Sub18 do ano anterior (7 vitórias e 2 derrotas).

O feito não é pequeno. Vale lembrar, estamos falando do continente com o basquete mais competitivo do planeta. Para ilustrar, as últimas 6 competições européias adultas tiveram vencedores diferentes (Itália, ex-Iuguslávia, Lituânia, Grécia, Rússia e, mais recentemente, Espanha).

Não é por outro motivo que vários jogadores que disputarão o Campeonato Mundial Sub19 estão ansiosos pelo confronto com a Lituânia. O brasileiro Lucas "Bebê" Nogueira, por exemplo, declarou recentemente em entrevista ao site da FIBA: "Não há nenhum jogador em especial que eu gostaria de enfrentar. Talvez o Valanciunas, por toda atenção que ele tem despertado da mídia".

Mas até que se prove o contrário, a Lituânia tem mesmo o time a ser batido. Na fase preparatória, a equipe derrotou duas vezes consecutivas a seleção brasileira e aplicou uma surra incrível na desfigurada equipe norte-americana campeã da Copa América Sub18 2010: 108 x 75. Sinal de que os rivais do continente americano não terão um caminho fácil na luta para tirar a invencibilidade do bicho papão europeu.

Não bastassem os resultados, o Mundial Sub19 será disputado na Letônia, na pequena Região Báltica em que também está situada a Lituânia. Significa que os jovens lituanos contarão com o apoio maciço da sua fanática torcida. Daqui a 63 dias, aliás, esses torcedores terão o prazer de assistir em casa a sua seleção adulta disputar uma vaga olímpica no Eurobasket 2011.

Confira abaixo os placares da geração de ouro da Lituânia:

Campeonato Europeu Sub16 de 2008 (Itália)
65 x 55 - Espanha
78 x 63 - Ucrânia
86 x 48 - Hungria
97 x 67 - Grécia
66 x 52 - Sérvia
76 x 48 - República Tcheca
73 x 47 - França
75 x 33 - República Tcheca

Campeonato Europeu Sub18 de 2010 (Lituânia)
81 x 61 - Ucrânia
87 x 66 - Polônia
90 x 68 - Eslovênia
104 x 63 - França
77 x 58 - Espanha
78 x 75 - Letônia
84 x 51 - Grécia
67 x 66 - Sérvia
90 x 61 - Rússia


Fotos: FIBA Europe

terça-feira, 28 de junho de 2011

The Kids ou o sonho cruel da realidade





A geração que hoje atravessa a terceira década de vida certamente conhece The Kids Aren´t Alright, música da provavelmente mais popular fase da banda Offspring. Nela, os roqueiros contam a história de uma geração simbolizada por uma vizinhança decadente. De sonhos e promessas à cruel realidade, a canção se apresenta, para mim, como um dos grandes momentos da música com guitarras distorcidas dos últimos tempos. Sugiro, mesmo, aos leitores que se não puderem ver o vídeo acima colocado com legendas, que ao menos procure a letra.
Às vésperas da estréia no Mundial sub19 contra a potência do basquete, Rússia, um dado me chamou particular atenção: o nosso retrospecto contra os ex-soviéticos em mundiais da categoria. No confronto direto, temos vantagem de 1-0. O expressivo resultado foi conquistado em 1999, em Portugal, ainda em uma frase de grupos. No final, a Rússia terminou em sexto lugar e o Brasil em oitavo. Veja todos jogos da campanha:
Campanha Completa
15 Jul. 1999
vs ESP
16 Jul. 1999
vs NGR
17 Jul. 1999
vs LAT
19 Jul. 1999
vs RUS
20 Jul. 1999
vs EUA
21 Jul. 1999
vs ARG
24 Jul. 1999
vs AUS
25 Jul. 1999
vs GRE
Como toda competição deste nível, muitos nomes despontam e muitos ficam pelo caminho. No time russo que vencemos, havia o hoje conhecidíssimo Kirilenko além do também campeão europeu Nikolay Padius. Na Espanha, campeões do torneio (e que perdemos bem de pouco), o elenco é ainda mais impressionante, com nomes como os geniais Juan Carlos Navarro e Pau Gasol, e os menos estelares mas também brilhantes Felipe Reyes, Raúl Lopez, Berni Rodriguez e Carlos Cabezas. Na Grécia, os pivôs Papadopoulos e Antonio Fotsis puxam a fila. Na Croácia, Zoran Planinic esquentava banco e na Argentina, que nos massacraram com certa facilidade e que tinha mesmo uma geração muito pior do que a anterior, estavam Kammerichs e Leiva, pivôs importantes mais tarde, em clubes e na seleção. Da Austrália, o ótimo David Andersen dominava o garrafão, entre outros nomes com mais ou menos destaque no mesmo torneio.
Essa longa abertura serve para dizer menos que queremos analisar o que significam essas competições internacionais de base e mais para mostrar que nossa geração competia no mesmo nível contra a nata do basquete mundial da mesma geração. No entanto, ignorando certo catastrofismo, para o nível esportivo, o destino da geração não foi tão diferente do que dos vizinhos cantados pelo Offspring.
Vejamos o elenco da digníssima participação brasileira no site com os nomes em inglês ou na improvisada tabela clicando aqui, já com os nomes pelos quais são conhecidos aqui.
Não é má vontade de nossa parte dizer que nenhum dos atletas acima listados foram destaques internacionais. Com exceção de Guilherme Giovannoni, nenhum deles teve carreira considerável fora do país. Mais uma vez, com exceção do piracicabano, nenhum é considerado nome importante do basquete nacional. Diego é o único a fazer companhia ao então companheiro na lista de Magnano e sabemos que sua presença lá é a mais contestável. Mesmo Guilherme, que considero um craque, está longe do nível de alguns dos citados como destaques naquela competição, mas isso é outro assunto. A análise que propomos dos sonhos desperdiçados fica ainda mais catastrófica se formos nome a nome.

O simpático Di, líder do time no Mundial, se tornou um obscuro ala coadjuvante do basquete paulista que foi perdendo espaço a medida que o profissionalismo brasileiro avançava. Só terá espaço em times de ponta do país se vier do banco. Sinceramente, não sei por onde anda. Diego se tornou importante peça de escape ofensivo e nada muito além. É comum ouvir elogios ao seu talento e críticas às suas escolhas dentro de quadra. Lucas Costa (foto ao lado) mostra desenvoltura e um interessante arsenal ofensivo jogando pelos times capixabas. Seu melhor momento foi quando comandado por Paulo Murilo, interrompido pela falta de pagamentos do time do Saldanha que o obrigou a mudar-se para São Paulo. Jogou pelo Cetaf, mas não empolgou. Tiagão se tornou um dos melhores pivôs do basquete nacional. Tem bom chute de fora e interessante jogo interno. Não tem nível, no entanto, para jogar jogos mais difíceis, e por isso, raramente é lembrado para seleção. Jefferson Sobral dificilmente terá time para jogar no NBB 4. Teve passagem confusa por Joinville e lamentável em Araraquara. Amigo de Nenê, vira e mexe aparece tentando jogar Summer Leagues, mas sem nenhum sucesso. Da lista, Manteguinha é provavelmente o mais talentoso dos baixos. Acerta seu retorno para o basquete carioca na tentativa de ser um dos nomes da retomada do Tijuca. Chegou a ser convocado para a seleção principal recentemente mas, machucado, não apareceu. João Paulo Lima é recifense e até cheguei a confundir com Batista, mas não. É um pivô obscuro que jogou o NBB 1 pelo Londrina. Teve alguns problemas legais e não sei por onde anda. Luiz Felipe Lemes jogou em BYU com Baby e tem rodado no país desde que se formou nos EUA. Primeiro no Minas, depois no Paulistano, ainda está sem time para o NBB 4. Chegou a jogar por seleções em torneios menores, mas também não empolga ninguém. Guilherme Giovannoni teve passagens em divisões de acesso na Espanha e na Itália e chegou a fazer boas temporadas na Lega A. Decidiu voltar ao país e, desde então, se tornou atleta de elite da liga nacional. É sem dúvida o único nome incontestavelmente bem sucedido da lista e, ainda que não seja um jogador da elite do basquete mundial, tem sim uma carreira de sucesso. Jorginho jogou o primeiro NBB por Assis e desde então não tem mercado. Jogador de personalidade forte e bastante inteligente, usou o basquete para viver experiências de vida, mas não conseguiu emplacar na carreira e confesso não saber o que anda fazendo. Thomas Gerke foi reserva do Pinheiros nos últimos tempos e não sei se continua por lá com a contratação de tantos reforços. Dificilmente encontrará mercado para o NBB 4. Gil foi pivô no Fluminense na época de Marcelinho e pelo que soube, não joga mais basquete.
Notamos assim que nenhum joga fora do país. E pior que isso, apenas Guilherme, Diego e Manteguinha não estão procurando emprego. Com tantos anos de crítica do basquete brasileiro, ainda não havia encontrado um exemplo tão gritante para o desperdício de uma geração e uma expressão tão latente do que há de mais grotesco na organização do basquete brasileiro do que o que aconteceu com essa promissora geração. Adaptando a música citada do Offspring, a pergunta que fica é, como pôde, um trabalho tão grotesco engolir tantas vidas? E para tanto, nos últimos 10 anos, não houve nenhum trabalho estrangeiro por aqui. Não houve nenhum jogador nascido nos EUA se naturalizando brasileiro para roubar a vaga de ninguém. Foi a própria bagunça de federações, confederação e clubes criaram que acabaram por praticamente enterrar uma geração que se não venceu, ao menos jogou em alto nível com o que havia de elite no basquete mundial jovem da época (com exceção do sempre remendado time dos EUA sub19) e que resultou em grandes craques do nosso basquete de hoje. Algo que fica é que esses dirigentes ou continuam onde estão ou seguem suas carreiras em outros ramos do trabalho. Muito se fala que a torcida brasileira é quem mais sofre no processo o que não é inteiramente verdade. Na ponta mais frágil disso tudo estão esses sonhos desperdiçados. Tudo que poderia ser mas não foi.

Gosto e torço tanto por essa geração que disputará o Mundial sub19 nos próximos dias que confesso ter calafrios ao imaginar que posso escrever texto semelhante sobre eles em 2021. Os dirigentes de clubes e federações brasileiras, os manda-chuvas da CBB e os próprios agentes e pais de atletas têm imensa responsabilidade de decidir nas escolhas das carreiras de Raulzinho, Felipe Vezaro, Taddei, Lucas Bebê, Gabriel Aguirre, Cristiano, Davi, Ícaro (que nem lá está, por contusão), Arthur, entre outros. O destino pode ser catastrófico. Há de se lutar, pelo bem de nosso basquete e, principalmente, pelos garotos, que as coisas sejam diferentes. A bola que sobe na Letônia é só uma parte da longa caminhada. Não desperdicem outros sonhos.