quarta-feira, 6 de julho de 2011

O lance derradeiro


A partida de hoje, de fato, poderia ter tomado diversos rumos. Por exemplo, se tivéssemos mantido o ritmo do primeiro período, creio que dificilmente dependeríamos da última bola. Fato é que, diante das circunstâncias, o arremesso de Massarelli no estouro do cronômetro acabou sendo a diferença entre a segunda colocação e a quinta colocação no Grupo E. A bola caiu, o que resultou na nossa eliminação.

Quando a reposição lateral foi feita pelos argentinos, com cerca de 6 segundos para o final, a opção do técnico José Neto foi por não cometer a falta, levando Massarelli para a cobrança de dois lance livres. Massarelli fez um arremesso desequilibrado, mas acabou acertando a bola que levou a partida à prorrogação.

É lógico que se a pergunta "deveríamos ter feito a falta em Massarelli?" for feita agora, a imensa maioria de treinadores, especialistas e torcedores, eu inclusive, responderá que sim. Afinal, o lance já aconteceu e infelizmente já sabemos o resultado.

No entanto, quando a decisão precisa ser tomada 5 segundos antes da definição, a questão está longe de ser uma unanimidade, pelo menos nas quadras brasileiras. Não tenho nenhum levantamento científico, mas já cansei de ver partidas serem decididas em situações similares sem que os técnicos optem pela falta.

Aliás, ontem mesmo, assisti à partida Argentina 73 x 70 Rússia, e a opção do técnico argentino foi de não fazer a falta nos segundos finais. Karasev (ele mesmo!) foi muito bem marcado, ainda assim arremessou, mas a bola bateu no aro. Vitória e classificação da Argentina.

Fazer a falta impede o arremesso de 3 pontos, mas não livra a vitória de riscos. Afinal, a tática de errar o segundo lance livre de propósito tem a sua probabilidade de êxito. Além disso, existe um risco ainda maior de haver erro na reposição de bola, no caso de dois acertos nos lance livres, o que pode acabar acarretando numa derrota, ao invés do empate. Isso para não falar de uma eventual cesta do meio da quadra depois de uma "troca" de lance livres entre as equipes.

Enfim, para ser bem sincero, não faço ideia de qual seja a melhor solução numa situação dessas. Imagino que dependa de muitas variáveis, como estatura e velocidade dos arremessadores e dos defensores, qualidade do arremesso da linha de 3 pontos, qualidade dos cobradores de lance livre e etc.

Já que o tema está longe de ser uma unanimidade, seria legal saber se há estudos no país sobre esse tipo de jogada. E a ENTB? Aborda em seus cursos situações como esta? O que ela costuma sugerir para os técnicos? Há algum embasamento científico?

Por outro lado, algo que não passou desapercebido no vídeo foi o bloqueio feito pelo argentino Delia em Lucas Nogueira. Vendo a tentativa de corrida do pivô brasileiro, obstada por Delia, creio que a ideia era que o pivô ajudasse com a sua estatura na marcação do arremesso de Massarelli. Se foi isso mesmo o que ocorreu, a postura tática argentina foi sensacional. Obviamente, não foi o que colocou o milimétrico arremesso desequilibrado para dentro do aro, mas certamente deu uma chance a mais para o acerto.

11 comentários:

  1. nem consigo ver isso...triste

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  2. É complicado. Assim como vocês, faço uma leiga análise de "coração partido", pois se trata de um roteiro comum aos jogos decisivos da seleção brasileira (incluindo a principal): começamos bem, abrimos vantagem considerável, e aos poucos ela vai caindo, caindo, e na hora decisiva, pecamos em detalhes. Gravei o jogo, mas ainda não tive estômago para revê-lo. Mas três coisas me incomodaram bastante ao longo dele:
    1) Demora na armação das jogadas: quando a argentina apertou a marcação, não foram raras as vezes que a jogada se iniciava de fato quando tínhamos 7, 6 segundos no relógio. Tivemos inclusive alguma seqüência de arremessos estourados. Faltou atacar a defesa de zona, o que exigiria maior movimentação de bola. A coisa só não desandou mais cedo por conta dos rebotes ofensivos, o que leva ao segundo ponto;
    2) Os pivôs: Se houvesse um prêmio MIP (evolução) considerando um curto espaço de tempo, o Felício ganharia de qualquer pessoa nesse planeta. Enquanto o Lucas Bebê ficou "apagado" durante boa parte da partida, o Felício era "o cara" do Brasil. Do outro lado, os pivôs hermanos tinham dificuldades no um contra um. Teve um que fez umas 3 faltas em menos de 2 minutos. Pelo que vi, dá pra notar que os lances livres não estão entre as melhores qualidades do Felício, mas ele e o próprio Bebê deveriam ter sido mais acionados. A maioria dos pontos deles vieram de rebotes e segundas chances. Nas vezes que o Felício foi no um contra um, teve mutia superioridade. E sinceramente, o vi por pouco tempo jogando ao lado do Bebê, principalmente nos minutos finais (talvez por conta dos lances livres);
    3) Chutes de fora: o grande número de rebotes ofensivos (o que é bom), pode apontar também uma deficiência, que é o aproveitamento nos arremessos. No último quarto, quando conseguimos nos minutos finais abrir 5 pontos de vantagem, a Argentina fez uma zona provocando os arremessos de fora, livres mesmos. E erramos quase todos! Muitos deles com bom tempo de posse de bola ainda. Para mim, houve uma inversão: no momento em que deveríamos gastar o tempo, apostamos tudo nos chutes de fora. Se a Argentina começou muito mal nos chutes de fora, terminou muito bem. E para nós foi o contrário. O que vimos no jogo de hoje foi o que percebemos ao longo de todo esse período: uma montanha russa de altos e baixos.
    Enfim, foi muito doloroso, uma mistura de "já vi esse filme antes" e "déjà vu".
    "Déja vu"?! Sim: seleção principal, desfalcada, na Argentina, vaga nas Olimpíadas, Scola, Ginóbili...

    P.S.: Difícil analisar toda a preparação (Raulzinho e Bebê boa parte ausentes) e o Mundial tendo assistido apenas ao derradeiro jogo de eliminação. Mas Walter Roese, CBB e karma nunca fizeram tanto sentido para mim...
    Desabafo feito!
    Abs!

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  3. Bela análise da partida Fabio. Concordo com muitos dos seus pontos, principalmente quando você fala na armação das jogadas que travou quando os argentinos apertaram e os arremessos de 3 pontos desperdiçados sem marcação, enquanto os argentinos não perdoavam qualquer espaço.

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  4. Não sei se existe na web, mas 2 anos atras uns professores americanos fizeram um estudo sobre a questão da falta ganhando por 3, analisando os ultimos 10 anos de jogos de NBA, e os resultados foram muito a favor de cometer a falta. A base era NBA e não FIBA, mas considerando que a linha de 3 FIBA é mais curta, deve favorecer ainda mais quem arremessa (vale lembrar que há treinadores europeus que fazem falta vencendo por 2). Então base cientifica para cometer a falta existe.

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  5. Fábio, tem como você colocar o jogo na internet??
    Só pude assistir metade do 1º quarto e a prorrogação...

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  6. Realmente a movimentação contra a zona ficou para a próxima, a argentina marcou 3-2 ,1-2-2, e em nenhum momento o brasil aproveitou a principal deficiência dessas defesas, em nenhum momento vi a movimentação dos pivos ou de um ala na cabeça do garrafão, o Bruno até passou por ali mas de costas para a bola. Por que ninguém indicou o caminho para os garotos que congelaram o cérebro nesse momento??? Provavelmente o Neto também congelou o seu.
    Na questão da falta, quem devia fazer a falta era o bruno pois seria falta para dois lances, eu comentava com um amigo, "tem que fazer a falta, esses argentinos são rabudos" me sinto culpado até agora por ter secado o Brasil.

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  7. Em conversa com treinador amigo Argentino eles tem um estudo do tempo em que o brasileiro marca segundo este estudo os atletas do Brasil aperta a marcação somente os 15 minutos iniciais dos 24 ai ja e umas das diferenças qure volta e meia tomamos bolas no termino do jogo.

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  8. uma coisa eu tenho a Falar Walter tinha q ter continuado trocar aqui q esta dando certo so no brasil mesmo nada contra o Neto mais eu achei com o Walter os meninos jogava melhor !!!

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  9. Excelentes colocações feitas Fábio, pois como técnico e estudante do Basquetebol, recém formado pela USP, sei que não há como não fomentar a prática esportiva com o conhecimento científico.

    Quanto à sua pergunta, os estudos feitos sobre finais de jogo e suas consequências são bem escassos, tanto aqui no Brasil, quanto lá fora.

    Porém, dentro desses, não há diferença significantes, estatísticamene falando, quando comparamos o fato de fazer ou não a falta. O que eu quero dizer aqui não é que não faz a menor diferença fazer ou não a falta, mas sim que, dentro dos POUCOS estudos que existem, essa fato não mostrou ser o "mais eficiente", assim como também não mostrou ser o "menos eficiente".

    E olha que eu não me refiro aqui a um só estudo, me refiro a pelo menos 5, feitos entre NBA, ACB e EuroBasket.

    Como técnico, eu muito provavelmente optaria pela falta; porém, acredito que no momento do jogo de ontem, o Neto pensou ser melhor se garantir na defesa, do que arriscar "dar pontos" ao adversário. Ainda mais quando se analisa a situação do jogo de ontem, onde inúmeras vezes, os nossos jogadores de cima foram cortados e a ajuda demorou a chegar, o que poderia claramente ser um potencial lance para falta e cesta argentino.

    Enfim, acredito que essa seleção mostrou ter um grande potencial para o futuro do nosso Basquete, então agora é torcer para que não aconteça com essa geração, o mesmo que aconteceu com a geração de Guilherme Giovanoni, Di e Diego (como muito bem postado por vcs dias atrás).

    Grande Abraço

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  10. Marcos, gravei pelo meu aparelho da SKY. Não sei se tem como passar pro PC. Talvez alguém mais ligado nas tecnologias possa fazer upload pelo menos dos "melhores" momentos.
    Abs!

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