Ao analisar as últimas 2 edições do NBB, os meus balanços anuais foram positivos. Afinal, a LNB ainda era muito jovem, o que nos obrigava a relativizar alguns problemas. A pouca idade, no entanto, não pode mais servir como desculpa para os dirigentes, que já deveriam ter aprendido com alguns erros iniciais. Assim, o balanço da temporada 2010/11 enxergou mais aspectos negativos do que positivos. Vejamos:
Calendário: Um verdadeiro absurdo. Conversei com alguns jogadores no final da temporada e quase todos eles relataram um cenário de pós-guerra, com atletas extenuados e com lesões ocasionadas por fadiga. Brasília, além do título nacional, pode ter terminado a temporada com um recorde (lamentável): disputou 9 partidas em 10 dias, num determinado ponto da temporada, incluindo aí uma excursão para o México (Liga das Américas). É óbvio que a LNB não tem total controle sobre o calendário, mas como é ela quem organiza o maior torneio do basquete nacional, é dela que deve partir a iniciativa para obter uma conciliação com as demais entidades.
Comissão disciplinar: Sinceramente, era melhor que nem existisse. Basicamente, é formada por dirigentes ou ex-dirigentes amadores das franquias que compõem a LNB. Assim, é corriqueiro ver um ou outro componente torcendo pelas suas franquias e esbravejando contra a arbitragem nos ginásios e nas redes sociais. Um amadorismo surreal. Naquela que era para ser a sua atuação mais importante na temporada, pagou um enorme mico, ou melhor, um King Kong. Foi no terrível episódio em que um torcedor no Pedrocão desferiu um soco no rosto do armador Valtinho, de Uberlândia. A comissão simplesmente sentou no processo durante meses e deixou para "julgá-lo" na última rodada. Aparentemente, valeu-se da cínica tática de deixar para a última hora e valer-se do equilíbrio do campeonato para justificar veladamente a impunidade.
Situação dos clubes: Desde que foi criada, a situação é a mesma. Há sempre 3 ou 4 franquias ameaçadas de suspensão ou extinção, e invariavelmente alguns casos acabam se confirmando. Nesta pré-temporada, o drama promete ser até maior. Afinal, Assis já fechou as portas, Joinville e Araraquara ainda estão ameçadas e as equipes capixabas, que tradicionalmente têm problemas para fechar as contas e montar elenco, ainda não se manifestaram. Não há mais do que 4 grandes investidores no NBB e o restante das equipes é bancada por prefeituras, pool de pequenas empresas ou mecenas. Infelizmente, é o mesmo cenário de 10 anos atrás.
Divulgação da modalidade: Está péssima. Alguns pequenos avanços foram registrados, como a criação do "media guide". O Jogo das Estrelas foi divertido para quem soube que estava acontecendo, e só. A audiência registrada foi baixa, o que demonstra que não faz o menor sentido cair de para-quedas na TV aberta, com 2 ou 4 horas anuais (a popularidade deveria levar a modalidade à TV aberta, e não o contrário). Uma grande rádio se prontificou a transmitir o NBB para São Paulo e outras cidades, mas ouviu um sonoro NÃO, o que demonstra que a emissora "parceira" (ou dona) está mais preocupada com suas próprias picuinhas do que com o crescimento da liga. Até hoje, a LNB não se prontificou a transmitir partidas pela internet. O trabalho da emissora "parceira" é tão preguiçoso que, ao invés de lançarem na internet vídeos com os melhores momentos das partidas transmitidas, publicam apenas os últimos 2 minutos do jogo. O site possui uma péssima navegabilidade (praticamente uma unanimidade entre os visitantes) e pouquíssimas novidades. Não existe, ainda, qualquer aplicativo para quem deseja acompanhar as partidas por celulares ou tablets, o que é inadmissível nos dias atuais.
Nível técnico e tático: Houve avanço nesta área, mas ainda muito tímido. Pela primeira vez, a final foi disputada por equipes que priorizavam o coletivo, o que foi legal. No entanto, a maior parte das partidas transmitidas continuaram a mostrar um nível técnico muito fraco. Na montagem dos elencos, algumas equipes de baixo investimento foram recompensadas por apostas ousadas (Bauru, com Douglas Nunes e Pilar e Limeira, com Ronald Ramon, por exemplo), mas outras equipes despejaram uma enorme quantidade de dinheiro no ralo (o Flamengo foi o grande exemplo, na temporada). Outras ligas do continente ainda dão um banho nas contratações, principalmente naquelas que podem ser consideradas "menos óbvias", de melhor relação custo benefício.
Amadorismo nos clubes: Acredite se quiser, mas há franquias no NBB que ainda trabalham na base do "contrato verbal", há também dirigentes que demonizam a figura dos agentes ("se eu sou amador, o jogador também tem que ser") e os relatos de salários atrasados ainda são constantes.
Sucesso nas arquibancadas?: Não consigo entender o motivo de tanta comemoração. Afinal, não me recordo de uma final de campeonato nacional de basquete que não tivesse casa cheia, mesmo na tenebrosa era comandada pelo Grego. Na hora de festejar, obviamente, ninguém se lembra que, nesta mesma temporada, o Flamengo, talvez pela primeira vez na sua história, jogou na frente de apenas 17 torcedores. Podem colocar a culpa na localização do ginásio, no trânsito do Rio, na fragilidade do time, mas o fato é que com um mínimo de esforço de divulgação, o Flamengo consegue colocar mais de 17 torcedores até em Marte.
Conclusão: A mídia especializada da NBA costuma dizer que é na terceira temporada que se pode avaliar melhor o potencial de um jovem jogador. Em geral, é quando as grandes estrelas costumam despontar e as apostas fracassadas são expostas. Seguindo mais ou menos a mesma linha, confesso que, pelos motivos apontados acima, fiquei muito decepcionado com a terceira edição do NBB. O que mais me espantou foi o amadorismo com que algumas decisões foram tomadas, principalmente na área de divulgação e de justiça desportiva. São gestos que se não passam despercebidos pela mídia e torcedores, certamente não passarão pelo atento crivo de quem tem potencial para injetar vultosos investimentos no basquete. Ser profissional não significa apenas receber salário no final do mês, mas também almejar e lutar pelo próprio crescimento, com posturas proativas.