domingo, 3 de julho de 2011

Ainda sobre a geração de 1980

Escrevi, durante a semana enquanto esperávamos o Mundial sub19, um artigo sobre o torneio de 99, quando a geração brasileira de 1980 desempenhou um belo papel. O artigo "The Kids ou o sonho cruel da realidade" rendeu muito mais do que se podia esperar.

A começar pelo generoso artigo de Paulo Murilo em resposta que serve como um complemento ao meu texto. Aqui, falei muito pouco em como essa geração foi desperdiçada também dentro da quadra. O professor foi muito além do que eu podia sequer planejar fazer.

Por conta do artigo, alguns amigos me procuraram para tentar saber mais de um nome em específico daquela geração, o escolta Di, cestinha da equipe no Mundial. Sabendo do interesse que a matéria levantara em relação ao seu nome, enviei uma mensagem ao jogador com o link para o artigo e solicitando uma entrevista para falarmos um pouco de sua carreira. Di, com extrema gentileza, não só aceitou prontamente como foi além e contou sua longa e conturbada trajetória em um texto que confesso ter me emocionado muito.

Com sua autorização, o reproduzo abaixo, para refletirmos neste domingo que o Mundial sub19 nos dá uma folga.

Concordo que essa geração teve vários jogadores com muita qualidade, que prometiam alcançar um futuro brilhante, mas por algumas circunstâncias e diferentes motivos, nem todos esses atletas alcançaram feitos importantes em suas carreiras, sejam elas nacional ou internacional.

Essa geração começou a ganhar em 1996, vencendo um sul-americano em Córdoba (Argentina) batendo os argentinos (que já contavam com Luis Scola e outros) por 1 ponto de diferença lá na casa dos rivais. Nessa equipe já jogavam três jogadores que em 1999 disputariam o Mundial: Di, Guilherme Giovannoni e Lucas Costa. Eu, logo em 1997, já jogava também o campeonato adulto pelo S.C Corinthians Paulista e face a uma grave contusão do Álvaro Reis que era o armador, acabei sendo titular da equipe durante o final do 1º turno e todo o 2º turno do campeonato, isso aos 17 anos.

Em 1998, um ano muito especial para mim, joguei meu 1º Campeonato Nacional pelo Rio Claro e também fui escolhido o melhor jogador Juvenil pela Federação Paulista de Basketball. Servindo a Seleção Brasileira Juvenil, conquistamos novamente o sul-americano de seleções, mais uma vez dentro da Argentina (na cidade de Jesus Maria/Província de Córdoba), vencendo também por 1 ponto de diferença. Tive a honra de fazer a ultima cesta que deu a vitória para o Brasil, além de ter sido eleito um dos três melhores jogadores do Torneio. Neste mesmo ano, ficamos em 3º lugar no pan-americano Juvenil em Santo Domingo na Republica Dominicana.

Em 1999, jogando pelo Londrina/Sercontel fui eleito revelação do Campeonato Nacional com apenas 19 anos. Lembro que antes do Mundial Juvenil em Portugal, jogamos um Torneio na Espanha e fomos campeões, vencendo a Espanha na partida final. Essa mesma equipe espanhola viria em seguida tornar-se Campeã do Mundo em Portugal, ganhando dos americanos com todos aqueles jogadores que você citou e que ainda fazem parte do elenco atual da seleção espanhola. A propósito, lembro que a nossa vitória contra a Rússia no mundial foi muito bonita, um grande jogo vencido na prorrogação.

Outro fato interessante ocorrido em 1999 foi que, acertadamente na minha opinião, fizemos quase toda preparação para o Mundial treinando juntamente com a seleção adulta que disputaria o pan-americano de Winnipeg (se não me falha a memória), e no único jogo amistoso entre a seleção adulta e a seleção juvenil, a seleção Juvenil acabou vencendo a partida (apesar do jogo não ter acabado).

Em 2000, fui convocado pela primeira vez para seleção adulta, disputando um torneio na Grécia. Neste ano, durante o Campeonato Nacional, tive o primeiro entorse no joelho, ficando afastado por um período das quadras. Quando voltei a jogar fui convocado para a seleção Sub 20, disputamos o Global Games Sub 20 nos EUA e fomos campeões da primeira edição desse torneio, vencendo a Iugoslávia na final. Disputamos também o sul-americano Sub 20 no Uruguai, perdendo a final para a Argentina e, em seguida, ficamos em 4º lugar na Copa America Sub 21 em Ribeirão Preto, não conseguindo a classificação para o Mundial no Japão. Lembrando que os jogadores desta equipe foram: Di, Manteiguinha, Alex, Diego, Jeferson Sobral, Guilherme, Nenê, Tiago Spliter, Baby, Tiagão, Jorginho, Wanderson e João Paulo.

No ano seguinte, em 2001, depois de outro entorse no mesmo joelho, tive que sofrer uma cirurgia de reconstrução de ligamento cruzado anterior. Após a cirurgia e durante a recuperação sofri uma tendinopatia no joelho operado que me deixou um período maior fora das quadras. No retorno em 2002 fui contratado primeiro pela equipe de Goiânia o Universo/Ajax, onde joguei alguns jogos no Nacional, e depois por Casa Branca jogando um Paulista. Mas meu joelho não me dava muita trégua, e resolvi voltar para a fisioterapia.

Durante 2003, voltei a jogar agora pelo Uniara/ Araraquara sendo que disputamos as finais do Paulista. Em seguida ainda pela equipe da Uniara/Araraquara disputei o Campeonato Nacional.

Em 2004, fui para o Corinthians/Mogi das Cruzes, disputando o paulista e sendo o cestinha da equipe no Campeonato Nacional. Voltei a ser convocado para Seleção Brasileira B, disputando dois torneios na China. Juntamente com Marcelinho Huertas e Arthur fomos inseridos na seleção principal adulta, disputando os torneios Super Four na Argentina, na Grécia (Atenas), na Italia (Regio Calabria) e na Espanha.

Em 2005, passei uma temporada na Itália na equipe do Premiata/Montegranaro (a equipe foi Vice-Campeã da Legadue naquele ano), sem muito tempo de quadra voltei para o Brasil para jogar em 2006, pelo C. R. Flamengo, sendo cestinha da equipe no Nacional de 2006.

Ainda em 2006, continuando muito bem física e tecnicamente falando, fui jogar em Assis onde fomos Vice-Campeões Paulista, sendo escolhido para a Seleção de Ouro do Campeonato.

Em 2007, ainda em Assis, ficamos em 3º lugar no Paulista e fomos Vice- Campeões da Super-Copa de Basquete, lembrando que naqueles últimos dois anos não houve Campeonato Nacional. No final do ano participamos do Torneio de Natal em Amsterdã, onde com grandes atuações acabei ganhando o Troféu de melhor jogador do Torneio. Porém, ainda lá em Amsterdã no final do torneio, sofri uma grave lesão muscular.

Em 2008 me transferi para o Winner Limeira onde surgiram outras lesões e acabei jogando pouco, porém vencemos o campeonato nos sagrando Campeões Paulista.

Em 2009 joguei em São Jose dos Campos a 1ª edição do NBB, mas infelizmente, no final do ano ainda durante o Campeonato Paulista (novembro), em um treinamento, sofri um forte choque com outro jogador, com entorse do mesmo joelho que havia operado há 10 anos atrás e, infelizmente, necessitei fazer nova cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior. Acabei não jogando as finais do Paulista, mas conseguimos o título de campeões.

Em 2010, já recuperado da cirurgia em agosto/setembro, e mesmo com contrato em vigor, o técnico e os dirigentes da equipe de São Jose dos Campos resolveram me deixar fora da equipe e o que foi pior, obrigando-me a treinar em separado e sozinho até fevereiro de 2011, quando fui jogar o Torneio Milênio pelo Clube de Regatas de Campinas, onde ainda me encontro. Essa situação que vivi na equipe de São José, a qual não desejo nem para um eventual inimigo, acabou por afastar o interesse de outras equipes em me contratar, já que houve momentos durante o campeonato em que a equipe estava desfalcada de 3 ou 4 jogadores nas posições que sempre joguei, perdendo vários jogos, e nem mesmo assim fui aproveitado.

Não tenho duvidas de que as lesões comprometeram minha carreira. Também não tenho dúvidas de que sempre me dediquei (desde os 7 anos de idade) ao basquetebol e as equipes que tive a oportunidade de jogar, lembrando que fui filiado pela 1ª vez aos 10 anos. Sem falsa modéstia, tenho consciência e muita confiança na minha capacidade técnica e experiência no jogo de basquete. Quanto ao futuro, que a Deus pertence, tenho expectativa de que em boas condições físicas eu volte a ter chances de disputar os torneios mais importantes do país.

Guilherme, aproveito a oportunidade para informar as equipes que joguei desde as categorias de base:

E.C Sírio, S.C Corinthians Paulista, Rio Claro/Brastemp, Londrina/Sercontel, Universo Ajax(Goiania), Casa Branca/ABF Seguros, Uniara/Araraquara, Corinthians/UMG de Mogi das Cruzes, Premiata Montegranaro/Itália, C.R. Flamengo/Petrobrás, Conti/Assis, Winner/Limeira, A.E São José/Unimed/Vinac e Clube de Regatas de Campinas.

Sou muito grato pelos amigos que fiz, pelos ensinamentos adquiridos, pelas experiências vividas, pelas oportunidades que os técnicos e dirigentes me proporcionaram e, principalmente, pela certeza de ter representado sempre com muito orgulho as equipes que tive a honra de defender e prestar serviços, dentre elas a seleção brasileira em algumas oportunidades. Torço muito pela nossa seleção, pelos seus jogadores e em especial pelos amigos que são da minha geração.

Um grande abraço

Di Galvão

10 comentários:

  1. Sou um fã do Di, jogador estilo clássico, um dos poucos hoje em atividade, mas é um lutador.
    Deus ajuda a quem se esforça, faz a sua parte, se não aconteceu ainda, esse dia de vitória vai chegar, basta ter fé.
    Eu tenho acompanhado a carreira do Di, de quase
    tudo isso que ele falou em entrevista, eu tenho em números, claro que dentro daquilo que a mídia nacional nos permite de informações, mas é basicamente isso.
    Desejo ao Di pronta e total recuperação porque qualidade e competência não lhe falta, e fique tranquilo Di, sozinho você não está não, você pode não ver, mas Jesus está bem do teu lado.
    Chumbinho,

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  2. O Di é uma excelente pessoa e um grande jogador torço para sua volta por cima.

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  3. Sugiro uma entrevista também com Lucas Costa desta mesma geração, Bill e Ovo da 78 o que aconteceu com suas carreiras???

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  4. Lauriberto Brocco (Broca)3 de julho de 2011 às 13:25

    Di, sempre o admirei como jogador. sei muito bem de toda sua luta para fugir das contusões, porem, hoje, RECUPERADO, tenha a certeza de vc dará a volta por cima. Espero que vc adote o meu conselho e se torne um armador, o que temos muita carencia, a ponto de tentarem naturalizar um americano, a quem tenho certeza, técnicamente, voce nao fica devendo nada.
    Confia no OMAO lá de cima, que ele sabe o faz.

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  5. Guilherme, seria legal conseguir um papo tipo esse com o Diego... esse sim pra mim sempre foi um cara de grande potencial, e pelo que ouvi falar de amigos que acompanhavam o basquete no inicio da decada de 2000, ele era uma grande promessa... pq não vingou?

    Gustavo Ganso 'GuTO'

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  6. Muito bom Guilherme. Ouvir a história pelo lado dos jogadores é sempre emocionante.

    Parabéns Giro e boa sorte Di!

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  7. Se Não fossem as seguintes Contusões, com certeza, ainda estaria na Seleção...
    Jogador muito Esforçado.
    Toda a Sorte pra Ele.

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  8. Di, sou de uma geração anterior a sua ... Caio, Demetrios, Farofa, mas sem duvida nenhuma, sua contribuição para o basquete nacional é indiscutivel ... mas se as contusões te atrapalharam, sua história de vida é um exemplo a ser seguido, de perseverança e dedicação! Faz muito tempo que nao nos vemos, espero que algum desses técnicos, da antiga ou da nova geração, abram o olho e voltem a entrar em contato com voce para que seja o armador (tbém concordo com Broca) que voce sempre foi! abração
    Marcio Faria

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  9. Como ele mesmo disse, começou a jogar aos 7 anos, será que essas contusões não foram causadas por isso?

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  10. Di, ate pelo menos metade da sua historia eu conheco muito bem, fomos sempre adversarios ja que joguei com o Guilherme Giovannoni desde o comeco em Piracicaba ate o Pinheiros em 97 e com o Lucas Costa no Sirio e Pinheiros.
    O Di era indiscutivelmente um dos melhores na sua posicao e realmente em boa condicao hoje poderia fazer a diferenca em qualquer time do NBB. Fico muito triste pelo modo em que foi tratado. Um grande abraco.

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