por Paul Shirlley, para El País*
tradução nossa.
Uma das consequências mais lamentáveis do auge da Internet tem sido o incremento do pensamento de grupo, quer dizer, a tendência da opinião pública a se alinhar em torno de uma tese fundamental. Suponho que o poderíamos ter visto isso surgir, já que a gente tem repetido como um papagaio os pensamentos dos outros desde que a Gazeta de Jerusalém chamou de prostituta a Maria Madalena em 23 depois de cristo (noite regada à vinho com Jesus Cristo! Impresso na interna!). Internet só faz isso mais fácil.
A corrida deste ano pelo prêmio de MVP da NBA é uma mostra da onipresença do pensamento de grupo. Agora se dá como fato que Derrick Rose exibirá logo um troféu de MVP em sua casa; em grande parte, porque as pessoas seguem dizendo isso.
Derrick Rose é um jogador de basquete muito bom. E os Bulls de Chicago são melhores este ano que no ano anterior. Mas, quando comparamos os dois anos, Rose é uma constante, uma constante portentosa e sobrenatural, mas que não deixa de ser uma constante. O que mudou foi o plantel: os Bulls largaram os preferidos dos homens brancos, Kirk Hinrich e Brad Miller, e contrataram os ganhadores habituais, Carlos Boozer e Kyle Korver - e o treinador, já que contrataram a Tom Thibodeau, o que foi assistente dos Celtics de Boston, para substituir ao bem penteado, ainda que permanentemente desconcertado, Vinny del Negro.
O resultado? Na temporada passada, os Bulls anotaram 97,5 pontos por partida e sofreram 99,1 no seu caminho de chegar em oitavo no Leste. Nesta, os Bulls anotam 98,3 pontos enquanto concedem 91,2 no que se tornará, provavelmente, o primeiro lugar do Leste.
Se Derrick Rose fosse o jogador mais valioso de todo o basquete, sua equipe teria sido tão boa (ou quase) o ano passado, antes das mudanças. Graças ao impacto de Thibodeau e dos jogadores ao redor de Rose, é razoável pensar que os Bulls seriam tão bons esse ano (e possivelmente melhores) se Rose fosse substituído por Deron Williams, Rajon Rondo ou Chris Paul.
De fato, estes três nomes estão provavelmente mais legitimados para serem candidatos a MVP. Os Hornets seriam perdedores sem Paul. Os Celtics, de carne e osso nos playoffs sem Rondo. E Williams, ainda que provavelmente não seja um cara legal (prova disso é que obrigou a Jerry Sloan deixar seu cargo em Utah), deve ter alguma influência no destino de suas equipes: os Jazz estão totalmente perdidos sem ele e parece que os Nets rejuvenesceram com sua chegada.
Os Bulls seriam piores sim sem Rose, mas não seriam ridículos. E essa, creio, é a definição de MVP: se se privar de um jogador da sua equipe, sua equipe se converteria no motivo de piada de toda a Liga. Seguindo essa pauta, a eleição de MVP de 2011 está clara: Kobe Bryant ou Dirk Nowitzki. Os Lakers seriam uma pegadinha sem Bryant. Sem Nowitzki, os Mavericks são os Kings de Sacramento: divertindo-se algumas noites, mas assistindo os playoffs pela televisão (em televisores grandes, isso sim).
Mas nem Bryant nem Nowitzki ganharão. Graças a uma corrente popular impulsionada pela Internet e que está transformando opiniões contrárias em cachorrinhos perante Maserati, Derrick Rose será nomeado MVP da NBA. Será uma eleição segura: os Bulls estão entre as equipes da elite da NBA e Rose é o melhor jogador de Chicago.
E então David Stern voará até Chicago com um troféu. Como tem que ser. Mas será o troféu equivocado e o dará ao homem equivocado. Porque o único troféu que deveria entregar em Chicago seria o com a etiqueta de técnico do ano . A Tom Thibodeau.
*Paul ganhou fama quando era o último jogador da rotação do Phoenix Suns nos anos dourados de Mike D´Antoni por lá e, ainda assim, era considerado o atleta blogueiro mais interessante de toda liga. Agora jogando na Europa, dá palpites no maior jornal espanhol. Ainda que não concordemos integralmente com as palavras do jogador, acho que o texto traz um debate interessante. Vale para abrir discussões.
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