Comentários à lista de Rubén Magnano

A convocação da seleção brasileira anunciada na manhã desta sexta-feira provocou intensos debates na internet. A maior parte da polêmica, é verdade, foi mais sobre a nacionalidade de um dos 20 convocados do que sobre a lista em si. Assim, abordaremos o assunto Larry Taylor adiante e, por ora, vamos tentar analisar a lista de Rubén Magnano para o Pré-Olímpico apenas sob o aspecto técnico.

De pronto, posso afirmar que entendo o saldo da lista positivo. Aliás, seria incoerente afirmar o contrário, eis que dos 20 nomes convocados, 16 estavam em nossa seleção divulgada ontem, e apenas um jogador do nosso "elenco ideal" ficou de fora, o Olivinha.

A experiência do grupo

Deve ficar claro que a seleção brasileira será preparada para uma espécie de guerra. Se alguém achou o ambiente do Pré-Olímpico Mundial de 2008 na Grécia hostil (até por conta de toda aquela polêmica envolvendo a cotovelada de Varejão em Zisis no ano anterior), prepare-se para algo muito pior em Mar De Plata. O próprio nome do ginásio já sugere uma batalha, o Polidesportivo Islas Malvinas deixa o La Bambonera de chinelos quando o assunto é panela de pressão.

Dito isso, agrada-me o fato de Magnano ter convocado uma seleção escaldada, repleta de jogadores experientes e já acostumados a lidar com a pressão, até mesmo para os treinamentos. Costumo dizer que essa atual geração de jogadores sofreu na pele os efeitos de uma renovação radical, precipitada e atabalhoada, e é bom que os erros do passado não se repitam.

Isso não significa que jogadores jovens não foram convocados. Na verdade, há 7 jogadores com 25 anos ou menos estão na lista: Raulzinho, Augusto Lima, Vitor Benite, Paulão, Douglas Nunes, Rafael Hettsheimeir e Caio Torres. Simplesmente, não se abriu mão dos veteranos.

A tão temida posição de armador

Na posição de armador, nosso calcanhar de aquiles há muito tempo, a seleção está bem servida. Huertas acaba de ser eleito o melhor armador da Espanha; Nezinho, apesar da crítica de alguns, e da perseguição de outros, foi vital na conquista do Brasília; Larry Taylor foi eleito o melhor armador do último NBB, embora sua presença dependa de agilidade no processo burocrático de naturalização; e Raulzinho vem sendo pacientemente talhado para ser o futuro armador da seleção.

Sei que alguns vão dizer: "ah, mas tem o Fúlvio, que liderou o NBB em assistências". De fato, se eu tivesse uma franquia no NBB, o Fúlvio seria um dos meus sonhos para a posição de armador. Internacionalmente, contudo, o jogador demonstrou muita fragilidade diante das melhores seleções. Lembro, sobretudo, das exibições contra a Grécia em 2008 e na derrota por 83 x 48 contra a Argentina em 2009. Tomara que um dia o jogador prove que estou enganado, mostrando ser útil no nível internacional.

As convocações questionáveis

Sinceramente, não consigo enxergar o que Magnano viu na última temporada de Diego, nem mesmo considerando o título do Campeonato Paulista. Para quem não sabe, o ala de Limeira já foi considerado uma das maiores revelações do basquete brasileiro. Ele liderou uma geração que chegou a derrotar a Rússia de Andrei Kirilenko nas categorias de base. No entanto, com o estilo de jogo tresloucado e com comportamento polêmico, o jogador nunca atingiu nem a metade do seu potencial.

Bem, quem sabe Magnano não coloca Diego nos trilhos? Mas, honestamente, hoje eu chamaria pelo menos uns 30 jogadores antes de cogitar o nome de Diego na seleção.

Também não entendi o critério utilizado na convocação de Caio Torres, já que o pivôzão não teve uma boa temporada na Espanha. Da última vez que serviu a seleção, mostrou-se lento. De qualquer forma, chegando no Flamengo, Caio terá uma boa oportunidade de dar uma reviravolta na sua carreira, que andava meio estagnada desde o Pan 2007.

A ausência inexplicável

Só há um esquecimento que considero grave na lista de Magnano, o Olivinha. Não, eu não acho que Olivinha seja um gênio do basquete e que fosse resolver a parada na Argentina. No entanto, o que mais espanta é que o ala-pivô do Pinheiros possui exatamente o estilo de jogo que Magnano costuma apreciar, sendo, depois de Varejão, o principal especialista no "jogo sujo" no Brasil.

E não foi por falta de vaga, já que Magnano se deu o luxo de fazer apostas, digamos assim, exuberantes, com Diego e Caio Torres. Enfim, considero esta a única grande injustiça da convocação.

Conclusão

Analisando friamente e, repito, deixando para analisar a questão Larry Taylor num segundo momento, a convocação de Magnano bate, em sua maior parte, com o senso comum da comunidade de basquete, inclusive nas apostas mais audaciosas (Vitor Benite, Douglas Nunes e Augusto Lima). Por isso, seria puro narcisismo pretender que a lista do técnico campeão olímpico batesse 100% com a nossa. Com exceção da ausência de Olivinha, posso dizer que gostei da convocação.

Agora é saber quem vai se apresentar no próximo dia 4 de julho...