sábado, 30 de abril de 2011

Gregg Papelovich

Existe uma mania entre mídia e torcedores de basquete que poderia ser simbolizada através do neologismo "genialização". A genialização consiste basicamente em tomar o bom como perfeito.

Aconteceu com Phil Jackson, principalmente quando a migração entre Chicago Bulls (Michael Jordan) para Los Angeles Lakers (Shaquille O´Neal) foi bem sucedida. Seu comportamento (supostamente) zen foi tido como modelo ideal e "seus" triângulos ganharam o status de obra de Da Vinci.


Hoje, o fenômeno da genialização volta a se repetir com Gregg Popovich. Bem no início da temporada, quando ainda twittava pelo Draft Brasil, recebi pedradas de vários lados por defender mais tempo em quadra para Tiago Splitter: "Ufanista!", "Essas pessoas que não conhecem o trabalho de Popovich são muito afobadas", "Como criticar a melhor campanha da NBA?", e por aí vai...

Ora, ufanista seria criticar Jerry Sloan por não ter dado mais oportunidades para Rafael Araújo. Ok, é óbvio que o fator geográfico é a principal razão para que escolha analisar a carreira de Tiago Splitter e não a do Timothy Mozgov. Tendo isto em mente, não parecia qualquer loucura apontar os principais defeitos no elenco do San Antonio Spurs: sempre faltava fôlego nos playoffs e o garrafão era um desastre em potencial.


Logo depois do título em 2007, ainda com Tim Duncan jogando o fino, o time do San Antonio Spurs quase foi varrido nas finais da Conferência Oeste pelo Los Angeles Lakers, que ali estreava Pau Gasol. E olha que o San Antonio Spurs ainda contava Fabricio Oberto para tentar medir forças com a versão menos turbinada do projeto "3 seven footers" (com Radmanovic, ao invés de Bynum). De lá para cá, sem resolver o problema no garrafão, o time tem repetido o roteiro de ir bem até onde os corpos de suas principais estrelas, principalmente Duncan e Manu, aguentam.

Por isso, fazia todo sentido do mundo imaginar que a chegada do considerado, não apenas por mim, diga-se, maior pivô do basquete fora da NBA cairia como uma luva para o San Antonio Spurs. Mais do que isso, Tiago Splitter levava em sua bagagem duas ferramentas fundamentais e supostamente contraditórias: idade e experiência. Afinal, quantos jogadores de 26 anos no planeta possuem 3 Campeonatos Mundiais no currículo?

No entanto, a tal da "genialização" tentou nos entubar goela abaixo algumas premissas intragáveis:
1 - Que Dejuan Blair e Matt Bonner eram uma solução, e não um problema para os playoffs;
2 - Que não jogar seria melhor para a adaptação de Tiago Splitter;
3 - Que todos calouros passam por isso com Popovich, e acabam se tornando estrelas.

A primeira foi desmitificada por um time com garrafão bem menos poderoso do que o Los Angeles Lakers, a segunda é derrubada pelo bom senso e a terceira premissa, talvez a mais irritantes delas, simplesmente não encontra lastro algum.

De fato, no meio da temporada, para comprovar que Tiago não estava passando por um processo comum a todos no Spurs apurei que de todos os calouros "relevantes" da equipe texana, a temporada de poucas oportunidades de Splitter só era comparável a de  Fabricio Oberto. E não foram só os craques que ficaram na frente. A farta lista conta com nomes como George Hill, Gary Neal, Dejuan Blair, Beno Udrih, e por aí vai...


E o problema não foi apenas a quantidade de tempo em quadra. Ora, creio que seria mesmo razoável para Tiago atuar por cerca de 15 a 20 minutos por partida em sua primeira temporada, como processo de adaptação. A questão é a qualidade dos 738 minutos que foram oferecidos a Tiago Splitter ao longo da temporada regular. Para se ter uma ideia, dos 20 quintetos em que o pivô brasileiro mais participou, apenas 1 contava com Tim Duncan. Para piorar, o pivô jamais conseguiu atuar numa boa sequência de jogos.


Agora, como diria o outro, vaca já foi para o brejo. A segunda melhor campanha da temporada regular foi incapaz de parar Zach Randolph e Marc Gasol, e por este ralo se foi uma das últimas chances de o San Antonio Spurs disputar o título com o seu principal ídolo, Tim Duncan. E se os texanos contam com um quinteto titular (Parker, Manu, Jefferson, McDyess e Tim Duncan) que se atuasse num grande centro dos EUA ganharia um apelido do tipo "os invencíveis prateados", a dura realidade é que seus torcedores tiveram que amargar uma raríssima zebra (pela quarta vez na história, um oitavo colocado derruba o primeiro e, não fosse por um arremesso milagroso e desesperado, teria sido por humilhantes 4 a 1).

Gregg Popovich, não vou negar, é um ótimo treinador, também um dos poucos que tiveram a oportunidade de trabalhar com uma super estrela "submissa" na NBA. No entanto, não há como esconder que já são 2 erros homéricos nas últimas temporadas: dispensar Luis Scola e não apostar na primeira temporada de Tiago Splitter na NBA. Só espero que não tentem genializá-los.

3 comentários:

  1. Perfeito o texto.
    E quando Tiago entrou em quadra nestes Playoffs, fazia o Spurs melhorar sensivelmente tanto no ataque, quanto na defesa.
    Por essa falta de garrafão que no início dos playoffs achava essa ser a zebra mais possivel de ocorrer.
    Já a do Magic perdendo para o Hawks, não imaginava.

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  2. Entendo que o o Popovich fez uma tremenda "sacanagem" com o Splitter e com o próprio San Antonio, que pagou por isso sendo eliminado. Não acho que com mais minutos para o Tiago o time seria necessariamente campeão, mas que o brasileiro acrescentaria qualidade ao jogo de garrafão não tenho dúvidas.
    O San Antonio, que era um time mais "europeu", que valorizava a posse de bola no ataque, é hoje um time "peladeiro", com Tony Parker sempre "alucinado".
    Acho que não é possível mas, depois de tudo a que foi submetido, na minha opinião seria ótimo o Splitter sair dessa "canoa furada" que é o San Antonio Spurs atualmente.

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  3. Concordo que Popovich falhou. Incrível que o Blair nem sequer entrava... e o Matt Bonner parecia um inútil na defesa. Se tem um lado positivo, é que agora não há desculpas para não desenvolver de vez o Tiago. Caso contrário, será tão burro quanto dispensar o pivô mais "underrated" da liga (Scola).

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