domingo, 3 de abril de 2011

Butler, pelo amor ao basquete



É muito esquisito que um time chegue pela segunda vez consecutiva a uma final de qualquer campeonato e ainda assim seja considerado um tremendo azarão.

Pois a pequena Universidade de Butler, que tem pouco mais de 4 mil alunos e fica a pouco mais de uma hora de carro de Indiana assalta o céu pela segunda vez em dois anos. É mais do que espetacular o que os comandados de Brad Stevens, o jovem e altivo técnico de 34 anos (e contrato com os Bulldogs até 2022) desempenharam nesses últimos dois anos.


Se fora da quadra, tanto se fala, com toda razão, de Brad Stevens, dentro dela, o março de 2011 deu um tapa na cara da obviedade que tanto permeia as discussões sobre basquete universitário - ou o basquete geral, como um todo.


Estávamos seduzidos demais pela lógica produtivista-babaca-mercadológica dos MockDrafts da vida e atentos para o de-fato-notável talento de Gordon Hayward que parecia que o simpático rapaz era o principal responsável pela campanha cinderela da pequena faculdade da terra de Larry Bird. É um erro crasso que cometemos, ao longo dos anos: olhar o excepcional campeonato universitário dos EUA como uma incubadora de talentos para a NBA. Lógica reducionista mesquinha que Butler está aí para provar o contrário.

Pois a espinha dorsal do time de Brad Stevens, o melhor time universitário do último biênio, é composta por três rapazes que passaram muito longe do criterioso olhar de Givony, Aran, experts e papagaios em geral da mídia estadunidense. São Ronald Nored, Shelvin Mack e Matt Howard o cérebro, tronco e membros desta apaixonante experiência que ganha formas em marços e vencem jogos apertados, preferencialmente contra times melhor cotados (a vitória de ontem contra VCU foi o primeiro jogo em que Butler entrou em quadra, nos últimos dois March Madness, como favorito do ponto de vista formal do chaveamento).

Nored é um defensor espetacular e um líder em quadra. Controla o ritmo do jogo nos momentos mais difíceis e sempre tem a incumbência de perseguir os mais velozes e ferozes armadores do país - será, provavelmente, o responsável por parar Kemba Walker. Mack é o puxador dos pontos: tem liberdade para atirar quando e quanto quiser, sobretudo se sua bola estiver caindo. Matt Howard é o fundamento: um dos mais inteligentes jogadores em atividade. Veterano, vive com a corda no pescoço. Não tem músculos pro basquete profissional da NBA e tampouco pras elites européias, que costumam usar a vaga de estrangeiro para talentos mais físicos vindos da América. Sabe, portanto, que a próxima derrota será sua última partida perante tantos holofotes. Tem, assim, a dignidade da luta pela sobrevivência em cada rebote.


Em um basquete cada vez mais individualista, físico, profissional e mercadológico, trata-se de uma das escassas boas histórias que às vezes aparecem. Um time que representa uma experiência e que absorve, na disposição de cada um de seus atletas, dirigentes e torcedores, a certeza de se tratar do último jogo de sua vida. É com esse espírito de devoção que antagonicamente, os comandados de Butler tem mostrado que vivem várias vidas. E de fato, cada uma delas, como se fosse a última. Porque realmente é.




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